quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Um Mundo de Vapor

Bom onde eu estava mesmo… Ah sim!


O ELENCO

Leaf - Bardo - Elfo
Axios - Guerreiro - Minotauro
Kaz - Guardião - Orc
Catarinna - Feiticeira - Humana
Valna - Clériga - Elfa


O ENREDO

Axios atraiu as criaturas de metal para fora. Elas tilintavam um som funesto o tic-tac das nossas vidas se esvaindo. Elas atacaram primeiro. Focaram no Kaz provavelmente atraídas por seu gigantesco porrete. Duas lanças, as duas acertam… Kaz se enfurece tudo nele pulsa, duas bolas são rebatidas com violência… Explodem e colocam fim em três dos cinco que nos atacavam.

Catarinna se anima ao ver o feroz ataque do Orc, lança uma onda de choque, um trovão que joga mais um dos nossos atacantes para o precipício. O último fica por conta de Axios que o destrói com seu machado.

Entramos no coração do monstro. Vapor e enxofre, um calor sufocante. Tudo cor de bronze deixando nossos olhos mareados. Canos por todos os lados como se fossem vasos e veias de uma criatura monstruosa que havíamos entrado. A nossa frente uma plataforma com uma alavanca. Mexemos na alavanca e um incrível arranjo de correntes, polias e rodas engrenadas fez a plataforma deslizar vagarosamente para baixo.

O poço parecia não ter fim, minutos, horas não sei quanto tempo se passou. O templo ampliado pelo murmúrio baixo do Minotauro lutando contra o desconforto do chão abaixo dos seus pés não ser firme o suficiente.

Finalmente a máquina parou. Estávamos novamente no mundo de bronze e enxofre. A nossa frente de novo os monstros de metal com seu tilintar. Porém dessa vez havia algo diferente. Um homem completamente azul, tentamos conversar com ele, explicar que não queríamos fazer qualquer mal às criaturas daquele lugar, precisávamos apenas confirmar que se tratava de um covil de dragão e poderíamos ir embora.

Fomos respondidos da pior maneira possível. Os olhos de nosso gladiator se turvaram, a fera presa por fortes amarras de honra, fé em Tauron e trato social do minotauro haviam sido retiradas, nosso companheiro retornava a sua forma bestial.

Não tínhamos tempo a perder, um ataque de Axios seria devastador, eu sabia disso melhor que todos pois conhecia bem seus “tapinhas” de comemoração.

Kaz se moveu como o vento, descendo seu porrete em todos os inimigos no caminho, em um piscar de olhos estava do outro lado da sala, segundo o mesmo percorrendo as três bases. Eu tentei selar novamente a besta de nosso, completamente em vão, deveria saber que seu monstro interior estava sedento por sangue.

O ser azul voltou-se para Kaz, um novo encanto mas, não dessa vez, nós bardos somos tão bons em entreter lordes e concubinas quanto somos em interromper encantamentos. Dei um grito, estridente, que retirou parte da força da magia, Então ele voltou-se para um painel que estava em suas costas apertou alguns botões, mexeu em umas alavancas, e os canos de bronze pulsando como artérias passaram a soltar cada vez mais calor e vapor.

Após hesitar por alguns instantes, Valna puxou seu arco e acertou uma flecha entre os olhos da criatura azul. Que torceu de costas e se desfez em frente aos nossos olhos. Axios se libertou do encanto e junto com Catarinna deu fim nos outros mecânicos que nos atormentavam.

Ao fim da batalha Kaz verificou o painel e encontrou apenas uma escrição estranha: BZM4K-003F

Bom tínhamos três opções, dois quartos e uma escada que dava na mesma direção dos canos. Entramos nos quartos primeiro. No da esquerda alguns daqueles pequenos autômatos, resolvemos destruí-los pois, eles poderiam despertar a qualquer momento. Na direita outro um tanto mais interessante, havia uma quantidade em ouro mas, o que chamava atenção era um ovo de metal do tamanho de um ser humano.

Eu e Valna resolvemos inspecionar o objeto e encontramos uma fechadura. Com alguma dificuldade abri, e nos deparamos apenas um com um interior acolchoado mas, vazio, deveria ser uma urna vazia no momento.

Enquanto eu e Valna inspecionamos o objeto Kaz nos chamou para verificarmos novamente o painel, a escrição havia mudado: BZM4K-002F. Olha… não gosto de contadores decrescendo, resolvemos nos apressar. Subimos a escada e nos deparamos com o ninho de um dragão!

O dragão parecia estar dormindo, todos os tubos do covil pareciam convergir para aquele lugar. Axios se apressou parecia estar fascinado por encontrar um dragão metálico.

Eu, no entanto, detive o guerreiro, o monstro que se apresentava naquele lugar não era um dragão metálico. Era um rascunho mal feito e descabido, jamais seria uma cria de Bahamut.

Então, temos que destruir essa cria de Kalllyadra… (no o que?) - Disse o minotauro. Veja, estou em uma terra que não é a minha, não fui contratado para matar um dragão, ou o que quer que essa criatura seja e tenho bastante apreço na minha vida. Respondi que devíamos ir embora, afinal já tínhamos confirmado que se trata de um covil de um dragão, ou algo parecido. “Tauron, não permite que eu dê as costas a um inimigo Leaf” - Respondeu Axios. Sabendo que só uma coisa supera a teimosia de meu companheiro de viagem disse. Pois então vire-se para ele e caminhe na minha direção. E… surpreendentemente me deparei com o minotauro andando de costas acompanhando o resto do grupo para fora daquele lugar.

Na costa um dos mercadores nos esperava, confirmamos a ele que era o covil de uma criatura parecida com um dragão mas, não exatamente um dragão metálico. A resposta foi boa o suficiente para que ele honrasse sua promessa de nos transportar para o continente.

Partimos da ilha, não sem antes ver nosso algoz ganhando os céus. Aquele esboço de dragão rumava fortuitamente para longe de nós.

Ganhamos o mar ansiosos por um retorno tranquilo a cidade mas, nem sempre os deuses tem os mesmos planos dos mortais. Uma calmaria nos deixou a deriva. Catarinna então resolveu impulsionar nossa nave usando a sua magia. A calmaria se transformou então em uma rajada na direção oposta à que Catarinna nos guiava. Havia magia no ar, eu sentia, mas, a feiticeira senhora dos trovões conseguia ouvir os encantamentos. Seus olhos então faiscaram e a constante brisa que impulsionava nosso barco se tornou uma forte rajada, a vela se encheu e em pouco tempo estávamos fora da tempestade.

Ainda assim não havíamos chegado e o mar ainda tinha sortilégios, uma densa névoa engolfou nosso barco. Catarinna sentia a magia no ar. Tenho pena de quem tentou testar forças com nossa feiticeira. A bruxa resolveu deixar claro quem era a senhora do vento e do trovão. Veias pulsaram, os olhos completamente sem pupilas, novamente Catarrina pairava acima do solo envolta em um casulo de raios. Uma forte rajada de vento encheu nossa vela e a embarcação finalmente se deslocou para a cidade.

Voltamos para Cali, após confirmarmos tudo com nossos empregadores, que deixaram claro que partiriam em uma semana.

Bom, eu tinha ouro bruto e queria transformá-lo em algumas peças de ouro. Nos informaram que o sábio estava de volta e tinha interesse em ouro.

Fomos até a casa do sábio para a nossa surpresa um elfo, jovem, embora isso possa significar algumas centenas de anos. Os olhos de Valna faiscaram a sacerdotisa parecia se interessar bastante por elfos jovens capazes de comprar grandes quantidades de ouro bruto.

Axios se adiantou a nós e despejou todos os seus devaneios sobre Arton, Tauron, Tapista e outras palavras que apenas fazem sentido para ele. Aguardamos…. AGUARDAMOS. Para então sermos surpreendidos por Kaz demonstrando todas as suas habilidades atléticas. Esse foi o instante em que o brilho dos olhos de Valna desapareceu, ao perceber o interesse do elfo pelo vigoroso taco do orc.

Resolvi dar fim à demência que se alastrava no grupo, me apresentei apropriadamente e perguntei o nome do Sábio. Ele atendia pelo nome de Reston e acabara de retornar de uma incursão ao forte do mago que havia fundado a cidade. Expliquei a ele que somos viajantes de mundos distantes, coletados para uma experiência de necromancia, velejadores de uma tartaruga gigante e fugitivos de um culto louco ao lado da cidade.

Nesse instante Axios me interrompeu e disse - Sabe Leaf, falando assim em voz alta, até parece loucura, não? - Fui obrigado a concordar. Perguntei então se ele sabia alguma maneira de retornarmos para casa.

A primeira opção foi retornar pelo portal do laboratório de necromancia. Algo completamente fora de nosso alcance, exceto pela referência do gigantesco redemoinho não tínhamos ideia de onde era o laboratório.

A outra opção é que o antigo abrigo do mago tinha alguns itens, e talvez um portal que pudéssemos utilizar para voltar para casa. Reston nos deu a direções, partiríamos no outro dia. Eu convidei ele para se juntar a nós na taverna a noite, quem sabe Valna não desse sorte… ou quem sabe... Kaz! Infelizmente o elfo não apareceu.

Nos equipamos e partimos da cidade, rapidamente ao chegar a localização indicada por Reston demos conta que o elfo foi bastante sucinto nos detalhes do covil do mago. Porque covil? O forte na verdade era uma caveira escavada na escarpa de um vale tal era a sua expressão que parecia nos vigiar ao longe. Toda a terra era cinza e a desolação invadia não só a paisagem mas, também nossos corações.

Fortuna ou revés? O que nos aguarda naquele lugar? Por agora esse elfo tem que ir embora, quem sabe da próxima vez que nos encontrarmos.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

A Sombra da Besta

Ah... Civilização, como é bom ter uma lareira, um banco confortável para se sentar e um bom vinho élfico para molhar a garganta. Se aconchegue aventureiro assim como quando cheguei em Cali.

O ELENCO

Leaf - Bardo - Elfo
Axios - Guerreiro - Minotauro
Kaz - Guardião - Orc
Catarinna - Feiticeira - Humana
Valna - Clériga - Elfa

O ENREDO

Meus companheiros de viagem tinham pressa, esse elfo... Não. Ora se estamos em um mundo perdido nada como saber que leis regem esse mundo. Fui, portanto, no mais importante prédio da cidade. Um forte? Castelo... Não homem, preciso de verdades incômodas e não sutileza, fui à taverna.

A taverna estava deserta, fui atendido pela taberneira Jenifer. Achei que era um dia ruim mas, ela me disse que aquele era o movimento comum naquela pequena cidade. Se entendi bem, a cidade é praticamente um entreposto entre o continente e aquela pequena ilha, sobrevivendo desse comércio incipiente. Apareceram alguns clientes para o almoço e poucas cabeças após o trabalho, infelizmente um número muito menor do que o necessário para histórias interessantes.

Bom, minha cicerone continuou a me contar como era a cidade. Havia sido fundada nos arredores do forte de um mago. Hoje um elfo sábio herdara a posição de lorde na cidade. Era também a única cidade da ilha. Perguntei sobre outros viajantes perdidos sem entender muito onde estavam, ou que possuíam características peculiares como meu nobre companheiro Axios. Ela respondeu de maneira negativa, disse que poderia encontrar algo do tipo em Megalus, uma cidade no continente que ela me apontou no mapa.

Visto que nosso objetivo agora estava no continente, perguntei se havia algum transporte regular para fora da ilha. Outra negativa, segundo Jenifer as únicas embarcações que aportam e zarpam da cidade são de comerciantes.

Nesse momento entrou na taverna Axios, se o minotauro é dificil de não ser notado agora então era impossível de ignorá-lo. Ele estava radiante, sua força havia sobrepujado um bando de mortos-vivos, segundo ele apenas um degrau para ficar a postos de enfrentar a Tormenta... Um dia descobrirei que tormenta é essa que ele tanto fala.

O mais impressionante é que o provinciano guerreiro finalmente chegara à conclusão que não estava em seu mundo. Portanto eu também estaria longe de Glórien mas, para me alegrar ele havia encontrado um belo alaúde.

Bom... Não sei quem é Glorien mas, já deixei de tentar entender Axios palavra por palavra, confio em seu nobre coração e aprendi a entendê-lo. O alaúde era realmente incrível, toquei uma balada sobre os Aventureiros do Infortúnio, ou seja, nós.

Catarinna, Kaz e Valna também me trouxeram boas novas das criptas que haviam silenciado enquanto eu bebia na taverna. Atento às suas palavras ouvi quando citaram um anão comerciante que estava na cidade. Resolvi então que conversaria com ele sobre uma passagem para o continente. Kaz também tinha negócios no centro da cidade e pediu que eu o esperasse para tratar com anão.

Enquanto aguardava Kaz na porta da taverna ví o mesmo emitir um brado aterrorizante enquanto olhava para o céu:

!!!DRRRAAAAAAGGGGÃÃÃÃÃÃOOO!!!

Joguei-me imediatamente taverna adentro, veja homem coragem se torna tolice quando a outra parte envolvida é um dragão.

Aguardamos alguns minutos. Inicialmente não disse a Axios do que se tratava pois, estava certo que o ousado guerreiro tomaria frente em relação a besta. Kaz veio correndo, ainda atônito pela passagem do monstro. Segundo ele os dragões estavam extintos, sim extintos, aparentemente a loucura de Axios se alastrava. Seja como for, Kaz o descreveu para nós, segundo ele um dragão cuja luz do dia refletia em sua pele. Rapidamente entendi que se tratava de um dragão metálico, bom dos males o menor, dragões cromáticos costumam ser muito mais impiedosos que os metálicos.

Voltamos ao nosso objetivo inicial, fui conversar com o mercador anão, tentei oferecer nosso serviços como seguranças mas, o anão parecia satisfeito com os seus. Não parecia ter muito interesse em nosso ouro também mas, se demonstrou bastante interessado em enviar uma comitiva, que não o incluísse, para a ilha no meio do anel das ilhas. Segundo ele queria comercializar com o dragão.

Olha… Não tenho obrigações com essa terra, mas dragões metálicos são uma verdadeira dádiva, e são raros. E posso jurar que vi o anão hesitar ao dizer a palavra comercializar. Se esse anão deseja fazer algo com esse dragão antes nós ficarmos sabendo para tentar impedir, que deixar que ele contrate mercenários impiedosos. Missão definida e preço definido também. Pela localização do covil o anão nos levaria ao continente principal.

Voltamos à taverna para podermos passar a noite. Catarinna, Kaz e Axios ocuparam os três quartos disponíveis. Eu e Valna passamos a noite no bar. Me comprometi a obter o máximo de informações possíveis da sacerdotisa que abre cofres. E depois de uma noite inteira regada a muita cerveja descobri que Valna deve ter o fígado de um anão.

Raiou o dia e preciso dizer que meus companheiros não deixam de me surpreender Kaz acordou coberto de insetos, disse que havia sonhado e que agora era uno com o grande inseto. Lembro de conferir o fundo de nossas canecas procurando o que raios estavam servindo nessa taverna.

Partimos para a rochosa ilha central. Ao longe já conseguimos ver seus picos enevoados. Ao longe já conseguimos discernir que não se tratava de névoa mas, sim de fumaça tal traço não passaria despercebido de qualquer forma pois, ao aportamos o pungente cheiro de enxofre inundou nossos pulmões.

Iniciamos a subida dos picos, e aqui preciso falar um pouco de Axios. Nosso inconsequente guerreiro investiria contra um demônio, ou, para ficar em suas divagações, um demônio da Tormenta sem pensar duas vezes. Tamanha ousadia porém não pode ser vista a ele subir qualquer coisa maior que um cavalo. O gigante se arrastava, curvo, murmurando e hesitante. Podia se ver um certo terror em seus olhos, sobrepujado apenas por sua força de vontade e coragem. Coragem? Sim coragem meu incauto, aquele que teme e persiste é corajoso, aquele que nada teme é tolo.

Alcançamos o topo de um dos picos. Na verdade chegamos ao topo de três picos, unidos por pontes pendentes. Em um deles uma enorme estátua de dragão de bronze. Abaixo da estátua uma entrada para dentro da rocha. De frente para nós, no entanto, marionetes metálicas. Pequenos dragões com um tilintar de engrenagens, todos de bronze, voando e protegendo os pés da estátua.

Nos atacaram, vomitando fogo, um calor capaz de invocar um lorde do inferno. Este elfo que vos fala chegou a vacilar encerrado, retornado ao pó pelo fogo.

Nós reorganizamos, revertemos o ataque. Catarinna absorveu o fogo das criaturas e o retornou para elas. Axios e Kaz avançaram protegendo os flancos, eu e Valna tratamos de fechar as feridas que eram possíveis.

Machados, tacos e bolas todos soaram no bronze das criaturas. Sua engrenagens foram retorcidas, rodas dentadas empenadas e eles não conseguiram mais se manter. Pouco a pouco todos foram destruídos mas, não sem custo. A ira dos monstros nos custou parte de nosso vigor. Resolvemos nos reagrupar no sopé da montanha descansar e depois avançar novamente.

Ao retornar pedi que esperassem um pouco enquanto eu vasculhava a entrada abaixo do dragão. Qual não foi a minha surpresa quando Valna se voluntariou para me acompanhar.

Entramos no que parecia ser as entranhas de um monstro de metal. Uma criação que deixaria até mesmo o maior gnomo artífice de Lantan sem palavras. Dentro cinco criaturas, autômatos de bronze guardavam a entrada.

Valna e eu retornamos, não teríamos chance entrando naquele átrio de metal e engrenagens. Resolvemos atraí-los para fora. Para isso Axios usou toda a percussão de seu escudo e os atraiu para fora.

Afinal, que criaturas são essas? Quem está produzindo esses monstros de bronze? E para que serve uma estátua em uma ilha deserta?

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

O Relato de Axios

Sob a luz mortiça de velas em uma terra desconhecida, eu, Axios Augustus Honoris, relato a seguir os eventos deste dia. 

Careço da métrica e da prosa de Leaf, meu novo amigo bardo, mas preciso registrar os ocorridos de hoje. Escrevo, pois, um relatório acerca desta etapa de minha viagem a uma terra terrivelmente confusa e, como vim a descobrir, tão alheia às pradarias do glorioso Império de Tauron que me são tão familiares. 

No despertar de Azgher — ou seja lá qual o nome pagão que dão nestas terras ao deus Sol —, alcançamos a vila de Cáli. Na entrada, encontrei um mestre anão bastante solícito. Era um mercador, acompanhado por dois guarda-costas: um humano e uma elfa, filha de Glór... Não, não filha de Glórien. Não nestas terras perdidas para os olhos dos deuses! 

O mestre anão impressionou-me com sua força e simpatia, logo nos indicando para o local que motivava nossa pressa. Explicamos-lhe que havíamos alcançado a cidade com celeridade para alertar o sacerdote de um dos deuses desta terra, e assim fomos direcionados a um templo. Lá chegando, encontramos o homem que pareceu confuso e assustado com minha aproximação. Quis tranquilizá-lo, assumindo a pose respeitosa que um legionário deve ter para com entes do clero, mas eis que o incauto civil perguntou se, ao se dirigir a mim, deveria chamar-me de homem. Achei-o deveras ousado em sua afronta e indaguei-lhe com que poder desafiava minha hombridade. Mal sabia eu que o motivo era mais sombrio... A verdade é que, para aquele homem, eu era uma criatura desconhecida e impressionante, inexistente naquelas terras. A seus olhos e de tantos outros, eu carregava o semblante ameaçador de uma besta ignorante, um ser de força e carente da lógica destilada por anos de estudo. Eu, membro de uma legião, um corpo único composto por inumeráveis espíritos vivazes e obedientes, era um soldado isolado, abandonado à solidão, confundido por muitos com um ruminante humanoide agressivo, um monstro, pois, como vim a saber logo em seguida, eu estava longe de minha casa. 

Sem me abalar com o desentendimento, ingressei em diálogo com o sacerdote, no que me seguiram meus companheiros, com a exceção de Leaf, que se dirigira a uma taverna no intento de declamar seus escritos e derramar seus vinhos goela abaixo certamente. Leaf é um bom homem, um elfo bastante confiante, mas sempre dotado de um olhar confuso quando com ele converso, além de possuir o estranho hábito de ferir com palavras os nossos inimigos. Parece-me desonroso não recorrer à força bruta como me foi ensinado, mas talvez essa seja só uma outra qualidade de vigor, afetando os inimigos em seu espírito e em sua sanidade mental. Espero apenas que não enfrentemos estoicos, aptos a absorverem os maiores vitupérios sem titubear. Mas estou divagando. 

Em nossa conversa com o sacerdote, soube, enfim, o motivo dos olhares confusos de meu amigo bardo e das constantes repreensões que recebia daqueles com quem interagíamos quando eu mencionava parcelas do meu conhecimento sobre geografia, história e religião: não estou em Arton. Malditos sejam Nimb e seus dados descoordenados, e ainda mais malditos sejam Aharadak e tudo o que é lefeu! Em uma jogada desenhada pelo Caos em conluio, certamente, com as tempestades rubras da Tormenta, fui enviado a outro mundo, afastado de meus deveres, de meu povo, de Tapista, meu reino, meu amado reino... Como quis chorar ao saber de tamanha desventura que me sufocava! Mas contive a força de minha saudade com o vigor de meu orgulho e decidi-me, por fim, que é meu dever manter-me firme no propósito de voltar à minha terra e reassumir a minha missão, seja ela qual for — as sombras turvas do esquecimento ainda obnubilam minha memória desde que surgi neste mundo desconhecido. Talvez seja fruto, inclusive, da natureza deste lugar afastado dos verdadeiros deuses onde me encontro: consoante afirmado pelo sacerdote, este é um Entremundos, um local de encruzilhada entre vários mundos. Assim, se Arton toca este lugar, é porque para lá posso retornar! Mas o como ainda me é tão incerto... 

Seja como for, meus deveres de justiça, minha homenagem distante a Khalmyr, precisam ser observados também à distância. Sei que o líder do Panteão de Arton me observa, mesmo à distância, mesmo nestas terras veladas aos olhos dos verdadeiros deuses, porque é justo que ele saiba que não vacilei no cumprimento de meu dever, mas, pelo contrário, fui involuntariamente jogado ao caos do desconhecido. Seja como for, por razão de justiça e em busca de restaurar a ordem, devo impô-la, seja onde for, assim como é devido. Foi desse modo que meu grupo e eu decidimos aceitar o pedido do sacerdote para que fôssemos ao cemitério do vilarejo, onde mortos-vivos assolavam a paz dos vivos e dos mortos. De início, não quis aceitar paga pelo serviço, afinal a distribuição da justiça já é o quinhão devido àquele que é justo. Mas Kaz, meu inusitado amigo orc, fissurado em agarrar-se a um taco que ele insiste em fazer crescer sempre que encontramos inimigos, lembrou-me de que o dinheiro desta terra pode ser um meio de adquirirmos nossa passagem de retorno a nossas vidas e, principalmente, aos nossos deveres. Aceitamos, portanto, ser pagos pelo feito. 

Na saída da cidade, com destino ao cemitério, conhecemos o ferreiro local. Bastante esmerado é o seu trabalho, e a sinfonia de suas marteladas lembrou-me as forjas ordenadas que temos no Império. Ó Tapista... Por que estamos tão distantes? Infelizmente, somente a nostalgia foi o que me restou recolher na sua oficina: com os poucos Tibares... corrijo-me: com o pouco dinheiro desta terra que temos, sequer poderíamos melhorar nossos equipamentos. Assim, seguimos como estávamos para a batalha, preparados apenas com o coração firme e com a robustez concreta de termos uma missão a ser cumprida. Leaf, porém, parecia avoado. Quedava-se ainda em declamações entremeadas por soluços de vinho na taverna. Ri um pouco de sua situação cômica de boêmio dedicado, o que aliviou o peso que senti diante dos novos conhecimentos, de minha desventura geográfica atual. Ele é um bom companheiro, assim como o são Kaz, Valna e Catarina. Talvez não seja de todo ruim o resultado dos dados de Nimb... 

Chegamos, enfim, ao cemitério e planejamos cuidadosamente nosso ataque. Que desventura ver que minha mente, perturbada nestas plagas desconhecidas, abraça a ignorância da parca estratégia. Tão cuidadosamente pensei em planejar algo que me demorei em demasia e executamos apenas o rascunho de um plano de batalha. Vergonha para as legiões teria sido a minha derrota, mas felizmente a força — sempre a força! — minha e de meus companheiros foi bastante para atingirmos nosso propósito. Mas isso não se deu sem o risco de sacrifícios! Não havíamos nem mesmo ingressado em combate, Catarina já corria risco de morte diante de um zumbi fétido que a atacava, muito longe de onde estávamos Valna e eu, deixando a responsabilidade de proteger nossa arcanista nas mãos, no taco e nas bolas de nosso amigo orc. Felizmente, apesar dos ataques sofridos, Catarina é uma feiticeira chocante — peço desculpas pelo trocadilho no relato, mas tenho passado muito tempo com Leaf, então certo desvio da sobriedade usual de meus relatórios era esperado — e o taco enrijecido e aumentado de Kaz, bem como suas bolas mágicas, provou-se uma arma volumosa contra os adversários. Ao mesmo tempo, a pontaria certeira de Valna e seus milagres de impacto e fogo foram peças vitais em nossa vitória. Unidos, conquistamos o desafio. Ou ao menos o que havíamos visto dele até o momento. 

Com os inimigos mortos (de novo), passamos ao escrutínio dos mausoléus e tumbas. Encontramos alguns bens que, não obstante eu acreditasse de início que deveriam ser deixados como lembranças e espólios dos mortos, seriam mais úteis conosco, um grupo de aventureiros em busca do caminho de casa. Ademais, que mal deve haver em ofender deuses que sequer sabem de nossa existência, neste entremundos perdido? 

Adentrávamos cada um dos cômodos de descanso eterno profanados pela necromancia que ressuscitara nossos adversários até que, ao final, encontramos uma criatura até então desconhecida para mim: era um espectro. A besta nebulosa parecia tocar um alaúde fantasmagórico quando a encontramos, mas logo mostrou toda a sua virulência ao nos atacar sem provocação. Por certo, meus companheiros estavam muito mais bem preparados para aquele embate do que eu. Valna proclamava seus milagres em ataques à criatura, Catarina enviava faixas luminosas com seus raios contra a imundície etérea, e Kaz, mais uma vez alisando magicamente seu taco para deixá-lo inchado e rijo, atingia a fera com pauladas impiedosas. O aço de meu machado, porém, apenas atravessava a criatura sem qualquer efeito... Nisso, Kaz teve uma ideia brilhante: estendendo na minha direção o saco com suas bolas mágicas, ao mesmo tempo que balançava ferozmente seu taco gigante contra o espectro, disse-me que segurasse uma de suas bolas e usasse-a para ferir nosso adversário — “Minhas bolas são mágicas! A criatura não suporta magia!”, ele disse. “Sim”, pensei comigo, “Definitivamente a criatura não será capaz de lidar com as bolas que vou esfregar em sua face plasmática!”; e foi o que fiz. 

Segurando com toda a minha força a bola mágica de Kaz, desferi golpes na face da criatura. O espectro, então, ora recebia o calor vigoroso das mãos quentes de Valna, ora sentia as fagulhas chocantes dos toques pungentes dos dedos de Catarina, ora tomava o impacto massivo do taco imenso de Kaz, ora engolia as bolas mágicas de Kaz que eu segurava e enfiava ectoplasma abaixo no inimigo. Podíamos ver a besta etérea se enfraquecendo à medida que a atacávamos e não foi surpresa para nenhum de nós que o taco mágico lustroso de Kaz tenha sido o último impacto sentido pela criatura antes de ela se desfazer em inexistência. Aquela, enfim, a vitória, nosso êxtase. 

Recolhemos os espólios do ataque e retornamos à cidade, onde o sacerdote nos agradeceu pelo feito e nos recompensou com uma pedra de poder. Talvez sejam como as bolas de Kaz. Catarina falou que ficaria com ela, mas pode ser que essa nova bola mágica, a bola do sacerdote, tenha mais uso nas mãos de Valna ou Leaf. Veremos.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Achados e Perdidos

 Olá aventureiro, veio se saborear do meu banquete de memórias? Pegue uma banqueta, me pague uma taça de vinho e mantenha as orelhas atentas aos meus contos.


O ELENCO


Leaf - Bardo - Elfo

Axios - Guerreiro - Minotauro

Kaz - Guardião - Orc

Catarinna - Feiticeira - Humana

Valna - Clériga - Elfa


O ENREDO


Terminamos com as tartarugas humanóides. Apenas depois do êxtase da batalha me ocorreu que para estarem usando ferramentas e armas mágicas aquelas criaturas deveriam ser inteligentes. Bom aos que se foram podemos somente nos lamentar, reviramos o esconderijo delas por informações mas, infelizmente não encontramos nada. 


Retornamos para a enseada e contornamos a montanha, encontramos apenas uma ostra gigante, dentro dela, no entanto, uma pérola valorosa ainda mais quando se pode utilizá-la para descobrir os encantos contidos na varinha que havíamos tomado das tartarugas. Voltamos para a caverna e eu comecei a preparar o ritual… Hehe… pois é esse elfo não vive somente de insultar seus adversários, sei um, ou outro encanto de verdade.


Enquanto identificava a varinha via Axios sucumbiu à loucura. Novamente invocando seus deuses esquecidos, terras inexistentes, ele travava uma luta a fim de descobrir onde estávamos. Além de suas divagações, o minotauro também encontrou uma passagem pela caverna.


O estreito corredor logo se transformou em um grande átrio. Duas celas pendiam do teto, e em uma delas uma mulher em vestes cerimoniais. Axios logo se prontificou a destruir a cela, eu já havia notado que o metal seria duro demais, retornei ao esconderijo das tartarugas e consegui algumas ferramentas para forçar a fechadura da cela.


Libertamos a mulher e vasculhamos a cela, encontramos um pequeno alforje com algumas peças de ouro. Axios me entregou dizendo - Veja Leaf, Tibares - Ao abrí-lo no entanto, vi moedas que nunca havia visto antes, estendi uma ao guerreiro perguntando se era um Tibar recebendo uma negativa como resposta.


A prisioneira estava com pressa, se chamava Maria, pertencia a um templo próximo ao leste de onde estávamos. Toda pressa me gerou desconfiança e tentei enfeitçá-la, no que acredito, ter falhado miseravelmente, logo, logo revelo porque.


Ela nos guiava até o seu templo. Lá poderíamos falar com seu mestre o Beato Salú que conhecia as cidades da redondezas e poderia nos indicar um caminho.


Finalmente chegamos ao templo. Um pequeno templo dedicado a Ezhar e depois de tanto tempo o mundo parecia fazer sentido para Axios, Azgher segundo ele o deus do Sol de seu mundo. Sim os nomes são próximos mas, não são as memórias se confundindo nesse velho elfo. Ainda que os acólitos dissessem Exhar Axios insistia em ouvir Azgher. Acredito que a condecendência não seja o traço mais forte do povo de Tapista, como Axios se referia a sí próprio.


Sua felicidade se tornou desconfiança ao ele entrar no templo. Muito fechado para um templo do Sol. O mesmo olhar de desconfiança estava no semblante de Valna. Eu e Catarinna havíamos aceitado nosso infortúnio e só queríamos chegar logo em um vilarejo.


Kaz e Axios ficaram muito incomodados e se detiveram nas portas do templo. Lá dentro um culto era presidido pelo Beato Salu. Que insistia em vociferar sem parar até que a noite subisse.


Foi quando o sacerdote disse algo como - O erro de nosso Deus foi trazer criaturas de outro mundo- O que disparou um frenesi em nosso guerreiro. Bufando do fundo do templo ele entrou gritando - Não são clérigos de Azgher, clérigos de Azgher não oram a noite, são clérigos de Aharadak, malditos profanadores, adoradores da Tormenta - Kaz o acompanhou em sua investida.


A porta se fechou e o Beato Salú e suas adoradoras nos atacaram, Maria nos traiu, não havia como ter sido enfeitiçada. Dizem que matar homens e mulheres santas trás má sorte, principalmente para os que morrem, não é mesmo?


Kaz invocou algum sortilégio e seu taco se tornou enorme! Infelizmente a nova clava desbalanceada retirou o equilíbrio de Kaz que fez alguns ataques sem muita eficácia. Axios investiu contra o Beato Salu, Eu Catarinna e Valna fomos cercados pelas asseclas.


Catarinna conjurou um feitiço antigo, a sala se encheu com um estrondo jogando as asseclas para longe. Eu e Valna nos concentramos em derrotá-las. Kaz recuperou seu equilibrio e suas bolas certeiras zuniram impulsionadas pelo gigantesco porrete. Axios manteve o Beato Salu isolado e seu poderoso machado em conjunto com as bolas de Kaz puseram fim a vida daquele verme fiel.


Reviramos o lugar, encontramos provisões, e nos fartamos após um longo tempo. Encontramos também uma escrivaninha na qual vimos alguns planos sobre assassinar um clérigo de Azher e a indicação que haveria um vilarejo ao leste chamado Cali. Ah! Um alívio, finalmente civilização, finalmente um lugar para morar e retornar para casa. Porém um quadro da parede retirou minha respiração.


Um mapa, em nada parecido com o meu mundo, tomaria por ser apenas um desenho se não fosse enorme redemoinho ao sul do mapa. E o continente ao seu lado as Ring Islands que Maria havia mencionado rapidamente. Chamei Axios, quem sabe esse não seria seu mundo perdido, novamente ele negou. Yrth estava escrito. Bom sabíamos onde estávamos, havíamos nos encontrado em um mundo perdido.


Continuamos a revirar o local. Encontrei um cofre atrás do altar. Peguei minhas ferramentas e passei a destrancá-lo. Minutos depois o suor já escorria em minha fronte mas, a fechadura persistia. Nesse momento, para minha surpresa, Valna pega minhas ferramentas e rapidamente abre o cofre… Que seminário é esse que ensina a utilizar gazuas? Talvez nossa clériga possua um passado ainda a ser revelado.


Aproveitamos a segurança do templo para descansarmos. No outro dia partimos logo cedo para Cali. Kaz nos guiou, inicialmente não era sequer um caminho, que se transformou em uma trilha que desembocou em uma estrada.


Fomos emboscados por alguns salteadores no meio da estrada. Axios e Valna se uniram para demovê-los da ideia de nos atacar. Passamos por eles e finalmente chegamos em Cali, no momento em que uma caravana partia.


Para onde vai a caravana? O que é Yrth? E porquê uma clériga do sol sabe abrir cofres somente a próxima noite poderá revelar. Até mais aventureiro.


Lá e de volta outra vez

Toda boa história, precisa de um final O ELENCO Leaf - Bardo - Elfo Axios - Guerreiro - Minotauro Kaz - Guardião - Orc Catarinna - Feiticeir...