Despertei em uma prisão pútrida, apenas a escuridão e a fome eram meus
companheiros. Após recobrar completamente a consciência percebi que não estava
sozinho. Ainda que não houvesse ninguém em minha cela consegui ouvir vozes pelo
corredor. Uma voz grave urrou por um deus esquecido e o que se seguiu foi um
enorme estrondo, forte o suficiente para que nosso carcereiro viesse fazer
troça de nós, mas, não o suficiente para derrubar os gradis.
Ainda que não conseguisse ver ninguém haviam pelo menos 4 vozes. Uma era
grave impossível de ser produzida por uma garganta humana, a outra apresentava
o característico pigarro dos Orcs, uma voz feminina, e a última que parecia
resignada com seu destino. Nenhum sabia ao certo como haviam chegado ali, porém
todos buscavam por uma maneira de sair.
Chequei a porta de minha cela. Sólida demais para arrombar, ainda mais
sem minhas gazuas.
Nosso carcereiro retornou, trazendo alguma comida, leite azedo com
algumas sementes. No momento em que experimentamos notamos o gosto do sangue
dissolvido na mistura. Pragas foram respondidas com zombaria pelo nosso
carcereiro.
Esperamos que ele se retirasse. Então começamos a escutar um encantamento
e para a nossa surpresa nossas celas se abriram, revelando a todos quem era
cada um. Como esperado havia um Orc e uma mulher, mas, o terceiro prisioneiro
era... um monstro! Homem com a cara de um touro, a surpresa em seu aspecto só
não foi maior do que no momento em que começou a falar, com até mesmo um toque
de elegância.
Revelou-se, no entanto, um homem bastante atormentado. Acredito que
tenha sido amaldiçoado pois, falava em deuses pagãos e cidades que não
existiam.
Não é momento para frivolidades nem espantos, nosso misterioso bem-feitor
nos indicou uma passagem secreta na cela antes ocupada pelo orc. Abrimos e
nossos sentidos forem golpeados pelo horror que ali se instalara.
O odor fétido de diversos corpos ainda em decomposição, amontoados como
se nunca houvessem sido pessoas que um dia foram amadas, um dia foram
desejadas. Em meio aos corpos encontramos nossos equipamentos, e não é que para
a minha surpresa o monstro, que aliais se chama Axios, possuía uma armadura,
uma armadura de centurião, com pompa e elegância. Peguei meu alaúde e meu arco,
e com repulsa vesti a armadura impregnada de sangue e restos. Nossos
equipamentos estarem ali eram apenas um prenuncio que nossos corpos também ali
ficariam.
Nos equipamos e atravessamos uma passagem ao leste e nosso espanto
apenas cresceu. Um laboratório da mais profana arte arcana... Necromancia! Sangue,
serras e partes de corpos, corpos sobre as mesas tudo imundo e pútrido,
mostrando o quão grande pode ser a depravação de um ser que procura apenas
poder.
Tentamos ignorar, mas, não conseguimos, os corpos se levantaram e nos
atacaram. Feroz e famintos, removidos de seu sono eterno precisavam de carne
para sobreviver. Um combate feroz em que Catarinna se revelou uma habilidosa
feiticeira, raios trovejaram sobre os monstros enquanto Axios habilmente a
protegia usando seu escudo.
E como é difícil convencer aquilo que já está morto a morrer, quase perecemos,
mas, não dessa vez. Outra sala, outro portal abismal para a depravação humana,
outros corpos que se levantam mais uma batalha. Algo chama a atenção Kaz
prefere rebater pedras com seu taco do que usá-lo diretamente no crânio de seus
inimigos.
Bom a este elfo não cabe classificar as habilidades de cada um, só
preciso dizer que embora peculiar a técnica se mostrou bastante eficaz.
Saindo pelo norte da sala chegamos em um corredor, finalmente um cômodo
limpo. Duas portas a oeste e uma porta ao norte. Na primeira porta ao norte
tivemos um vislumbre de onde estávamos. Mercadores de mortos-vivos, porcos que
trocaram sonhos de alguns por algumas moedas de ouro. Conseguimos um mapa do
lugar e decidimos sair o mais rápido possível dali.
Ainda que alguns quartos me chamassem a atenção Axios me trouxe a razão,
é momento de sobreviver e não de ambição.
Seguimos passando antes pela biblioteca onde encontramos o que eu
acredito ser outro prisioneiro. Bom seja quem for nos entregou um molho de
chaves e uma ferramenta estranha que ele disse que seria necessária para que
fossemos embora.
Utilizando as chaves abrimos a porta ao norte do corredor. E ficamos vislumbrados
com uma maravilha arcana. Uma luz púrpura preenchia toda a sala, símbolos
arcanos no chão e um portal em seu centro. Do outro lado do portal três
destinos foram apresentados, uma floresta com frutos suculentos, um vulcão em
chamas e um céu sem fim. Utilizando a ferramenta que nos foi dada escolhemos a
floresta e atravessamos o portal que se fechou em nossas costas.
Finalmente luz do dia! A fome levou Axios a experimentar rapidamente uma
das frutas que se mostrou deliciosa e suculenta. Comemos, estávamos famintos,
mas, ainda sim apenas uma maçã foi suficiente para nos deixar satisfeitos.
Começamos a explorar a floresta e descobrimos que estávamos no casco de uma
tartaruga!
Aventureiro a noite se alonga e a garganta seca, talvez seja momento de
outra bebida para que essa história de elfos e monstros possa continuar.