domingo, 4 de abril de 2021

Lá e de volta outra vez

Toda boa história, precisa de um final


O ELENCO
Leaf - Bardo - Elfo
Axios - Guerreiro - Minotauro
Kaz - Guardião - Orc
Catarinna - Feiticeira - Humana
Valna - Clériga - Elfa


O ENREDO

A sacerdotisa havia ditado nossa sorte. Deveríamos seguir para o norte em direção a caserna. Começamos a nos preparar, foi quando uma criatura abominável apareceu na porta ao sul. Ainda nos lembrávamos de sua tenebrosa voz, vinda de uma traqueia pertencente aos círculos do inferno.


O ser de pele púpura, patas terminadas em garras, e em suas mãos uma lança de aço infernal. Sua cabeleira, em especial sua barba pareciam vivos.

Desconhecendo o medo, Axios prontamente investiu contra a criatura, travando-a abaixo do portal, impedindo que alcançasse os demais. Sua bravura teve um preço. A barba viva como tentáculos rasgou a pele do minotauro um extenso ferimento em seu peito. Pelos olhos do guerreiros conseguimos notar que não se tratava de um ferimento comum.

Reston então, nos avisou que deveríamos a todo custo evitar os ataques com armas naturais do demônio. A glaive não teria maior perigo que seu próprio corte, as garras e a barba do demônio guardavam lembranças do círculo infernal no qual a criatura foi gestada.

Axios retomou o fôlego e desceu seu machado com uma fúria impetuosa ferindo o ombro e o lado da criatura. Valna invocou a luz de seu deus para calcinar a pele do demônio e lembrar que nenhum mal é realmente poderoso contra os desígnios do bem. Eu ataquei sua vaidade. Demônios não ligam para zombarias mas, se acham os seres mais poderosos do universo. Minha distração foi suficiente para Catarinna e Reston invocarem suas artes arcanas e devolverem o ser ao seu útero infernal.

Valna verificou os ferimentos de Axios, além da chaga nada a preocupar. O vigor do Minotauro foi o suficiente para expulsar o veneno infernal.

Atravessamos a porta sul a fim de verificar os laboratórios de necromancia. Novos corpos estavam nas mesas, como já havíamos visto esses seres se levantarem resolvemos fechar a porta e eu inutilizei a fechadura.

Nós voltamos para o ataque à caserna. Iríamos nos posicionar perto da porta e arrombaríamos aproveitando a surpresa dos defensores. Eu havia ficado para trás aplicando uma pomada que Reston me entregara. Foi quando Axios, do meio do pátio, e com sua voz de trovão, gritou por Reston perguntando se ele sabia algo sobre o poço místico no meio do pátio.


Sua voz foi potente o suficiente para despertar todos da caserna. As portas abriram e onde esperávamos soldados havia outro demônio. Duas orbes de fogo e uma mulher de traços sepulcrais as comandando.

Corremos... Estávamos desposicionados, Kaz na retaguarda, Catarinna na Vanguarda e Valna perdida entre a vanguarda e Reston. Nossa adversária se aproveitou, invocou chamas e lançou uma bola de fogo em nós.

Conseguimos desviar, Valna porém ainda estava de costas para as criaturas e foi completamente engolfada pelas chamas, com sua pele sendo extremamente ferida. Nesse momento descobri para que servia a pomada que Reston havia me entregado. O fogo tentou ferir minha pele mas, a pomada impediu.

Catarinna respondeu o ataque. Se a dama dos mortos deseja uma disputa arcana, não seria nossa feiticeira a se retirar. A sala que havia se transformado em uma estufa com chamas para todos os lados começou a gelar, O frio vinha de todos os lados e se concentrava na mão da feiticeira. Um frio espectral formou uma bola de gelo que foi atirada contra a silhueta cadavérica que revirou as orbes de seus olhos a queimadura de frio de Catarinna era ainda mais poderosa que suas chamas. Eu corri… Não para onde você está pensando mas, sim para a vanguarda, não podia deixar Catarinna liderando o front, e no mais a mais estava protegido contra o fogo.

As orbes de fogo despejaram suas chamas sobre mim. Não sou exatamente um combatente mas, existe uma ponta de brio eu meu ser. Me defendi e fui capaz de impedir o avanço delas.

Axios estava paralisado. Sua mente ainda processava o fato de sua voz ter provocado aquela agonia sobre nós. Ele via Valna completamente queimada, eu defendendo a vanguarda, ele não havia nos traído, havia sido apenas ingênuo mas, não era assim que ele via a situação. Sua hesitação se transformou em ira, sua ira em ação. Investiu com os olhos em branco, visão completamente em túnel focando a mulher cadavérica. As orbes tentaram impedir seu avanço, como se formigas devotas pudessem impedir um titã. Ergueu seu machado descendo sobre as costelas da maga e eu posso jurar que pela primeira vez em minha vida de aventureiro ouvi um morto-vivo gritar de dor.

Na sombra de Axios rápido como o vento veio Kaz. Havia absorvido a bola de fogo e trazia seu taco em chamas. Seus olhos rápidos de rebatedor haviam reparado que uma figura fantasmagórica se contorceu no espelho ao fundo da sala quando Axios acertou seu ataque. Então nele descarregou as chamas que havia capturado. O espelho se quebrou e todo o calor da sala se esvaiu. A criatura soltou um urro, havia perdido sua ligação com os mundos inferiores. Kaz virou-se, não havia terminado e acertou duas fortes tacadas na criatura.

Valna e Reston se agruparam na retaguarda, e trataram de cuidar das feridas da elfa.

Ah! Recuperamos o fôlego. Vendo a criatura vacilando Catarinna tratou de disponibilizar uma morte para que ela se lembre de quando tentou disputar artes arcanas com uma tocada pela magia. Um gesto, algumas sílabas e um esquife de gelo envolveu a criatura cadavérica sepultando-a para sempre. As orbes de fogo começaram a vacilar e não foram páreo para a fúria de Axios e Kaz sem a sua comandante.

Bom, tratamos de vasculhar rapidamente os quartos, encontramos os discos dos planos, a base da ferramenta, um símbolo sagrado, ou profano de uma mão fechada com sangue. Recolhemos tudo e corremos para a sala do portal.



Casanate nos esperava e ficou feliz em ver que havíamos recuperado tudo. Finalmente o momento de voltarmos para nossas casas. Kaz se despediu de todos, e retornou ao seu mundo em que era um famoso jogador de baseball, seja lá o que isso for. Axios se prostou então em frente ao portal. Do outro lado Casanate sintonizou Arton, sua amada Arton. Quando Axios avançou, segui então seu passo, e fui rapidamente detido pela poderosa mão do minotauro em meu ombro. Havia algo que ele não havia dito sobre Arton. Elfos não são bem vindos, e ele não gostaria de me ver preso naquele mundo. Perguntei então a Casanate se teria como nos apenas passarmos por Arton e não ficarmos presos lá. Casanate disse que para isso precisaria recuperar uma de suas naus planares. E que uma delas estava perdida em Faerun. Convidei então Axios para que viesse ao meu mundo e depois poderíamos ir para Arton. O minotauro fitou de maneira nostálgica o portal, do outro lado poderosas muralhas eram exibidas, com certeza deveria ser Tapista. Virou de costas para o portal e disse: “Não existe desonra maior para um servo de Tauron do que abandonar seus subordinados, se o combate me leva para Faerun, então para Faerun irei”.

Casanate então sintonizou Faerun. Minha casa. Fizemos a fila e de um a um fomos atravessando. Eu, Axios, Catarinna…

Quando Valna foi atravessar ela olhou para trás. Olhou para Reston, o elfo estava no canto, taciturno, olhando para o vazio. Foi quando ela perguntou - E agora Reston? - O elfo então respondeu - Bom eu também vou voltar. Valna olhou para o chão e começou a se voltar para o portal. - Mas, não tenho para onde voltar - completou o elfo. Valna sorriu - Não consegue fazer nada direito sozinho não é? Vamos Reston - disse a Elfa e os dois atravessaram o portal. Por fim, Casanate que fechou o portal.

Senti então o sol de Faerun e o inconfundível vento gelado do norte. Estávamos em Faerun, estávamos no norte. Eu, finalmente, estava…. Em casa.

E todo bom final é um começo

segunda-feira, 22 de março de 2021

A Sacerdotisa

Ah! Todos sabem que uma boa história começa na taverna.

O ELENCO
Leaf - Bardo - Elfo
Axios - Guerreiro - Minotauro
Kaz - Guardião - Orc
Catarinna - Feiticeira - Humana
Valna - Clériga - Elfa

O ENREDO


Bom essa história começa removendo uma das hipóteses que havia levantado anteriormente. Voltamos para a taverna descansar um pouco, após uma caverna cheia de aranhas. Entre uma caneca e outra de cerveja, Valna se aproximou de Reston e disse que não queria nada sério, foi apenas diversão, uma molecagem, ele nada significava e deveria buscar outra pessoa. Mesmo tendo conhecido Reston recentemente fiquei com pena do elfo quebrado, infelizmente nossa sacerdotisa era tão piedosa com seus parceiros quanto foi com as aranhas. Bom se Reston iria nos acompanhar para impressionar a elfa acho melhor pensar em outra coisa.

Para cortar o clima passei a tocar uma balada leve enquanto ouvia Axios conversar com Casanate sobre a sua amada Arton. Discursava a sua maneira das pradarias, das muralhas de Tapista, de uma deusa estátua, e de um exército de neofacistas! Sim esse estalo que você acaba de ouvir vem do meu alaúde, uma corda se arrebentando. Jamais imaginei que Axios fosse capaz de usar uma palavra desse tamanho, ainda mais saber o significado dela. Segundo o minotauro um exército denominado Puristas varria impérios com ódio e soberba.

A noite seguia e seguiam as canecas de cerveja de Valna. Notei que a resistência da elfa estava finalmente abalada quando ela começou a flertar com o Almirante. Aproveitei pois, como todos sabem: por onde entra o álcool, sai a verdade. Quis saber um pouco sobre a ordem monástica que ela fazia parte. Segundo a sacerdotisa ela fazia parte de uma ordem monástica famosa por produzir a melhor cerveja de Faerun. Eu conheço a ordem, os Devotos em Trapos de Ilmater, conhecidos como Trapistas. Sua sede fica em Lua Argêntea, quase na espinha do mundo. Foi então que disse: “Ah sim! Vocês são de Calinsham não é mesmo? Conheço a cerveja de vocês.” Para você que não conhece minhas terras, Lua Argêntea é o estandarte da civilização ao norte, já Calinsham é a fronteira sul do mundo civilizado, depois de Calinsham apenas as selvas de Chult.

Ela continuava em sua ébria tagarelice, dizia que teria passado toda a vida em um forte, criada na clausura monástica, o que… Não explica em nada seu apetite por ouro.

A noite prosseguia e entre uma contradição e outra de Valna esse elfo se cansou. Veja, um ou outro mistério tornam a pessoa interessante. Dez ou mais, como você verá em meu relato, tem-se que admitir que está sendo enganado. Resolvi me retirar. Em meu quarto ouvi um urro desumano, algo das profundezas vindo do quarto de Kaz. Corri até lá e para ver se estava tudo bem. Como o Orc não abria a porta resolvi entrar e… O cheiro das profundezas do inferno encheu minhas narinas. Kaz havia vomitado em todo o quarto. Estava em delírio febril. Chamei Valna que veio com Reston a tiracolo.

A elfa me ajudou com Kaz e com o quarto. O elfo reconheceu os sintomas como sendo o envenenamento das aranhas do covil do mago. Fizemos um caldo para que o estômago do Orc parasse de jogar tudo para fora mas, precisávamos obter uma cura pois o unguento era incapaz de reduzir o delírio e a febre do orc.

Reston então se lembrou que uma flor na floresta ao sudeste que crescia ao redor da mais velha árvore da floresta poderia neutralizar o veneno.

Kaz pois então, fim a noite de comemorações. Catarinna precisava descansar antes de outra aventura. A taverna então se silenciou até a próxima manhã.

Acordamos! Kaz havia parado de vomitar mas estava tão debilitado que não podia se levantar. Partimos então como o vento para a floresta guiados por… Valna porquê óbvio é o que se ensina para sacerdotisa criada na clausura.

Seja como for, tivemos sorte dos talentos heterodoxos da elfa, normalmente Kaz nos guiaria. Enquanto nos embrenhávamos pela floresta a pedra que voa ao redor do Minotauro começou a pulsar avisando de um perigo iminente.

Aguçamos nossa visão e nada na floresta, vasculhamos cada centímetro e nada, então olhamos para cima e vimos o pesadelo alado. Saída das loucuras das brumas febrís do Demogorgon aquele ser. Parte leão, com face humana e uma cauda farpada, uma Manticora. Catarinna ainda tentou negociar com o tormento mas, em vão, a besta estava faminta e apenas queria mais carne, carne de elfo e carne de minotauro.

A ira da Manticora desabou sobre nós, mordidas e espinhos rasgando nossa carne, e estávamos desfalcados sem as poderosas bolas de Kaz. Foi então que Valna revelou mais um de seus segredos, embebedou suas flechas em veneno e as disparou contra a besta. O líquido virulento entrou na corrente sanguínea do monstro como ácido fazendo a contorcer em espasmos. Veja aqui não é questão que um sacerdote não possa usar venenos, pelo contrário vários deles são famosos pelo seu uso mas, nenhuma ordem que valha a pena confiar.



Aproveitamos os espasmos para atacarmos com toda nossa fúria. Flechas, raios e todo tpo de sortilégio foi disparado contra o monstro. Por fim, Axios usou seu machado para cortar a cabeça do pesadelo trazendo fim a sua existência de sofrimento. Separamos então a cauda da Manticora do corpo pois, os esporões alí contidos podem ser usados para fazer armas.

Andamos mais um pouco pela floresta e conseguimos encontrar as flores, coletamos e tratamos de voltar logo para a cidade.

Chegando na cidade e Valna foi atrás de Reston para que ele preparasse a poção e também se ele tinha interesse no rabo da Manticora. Depois de uma conversa um tanto… Pitoresca… sobre rabos de mantícoras e elfas, Valna decidiu não vender o rabo, deixo à sua decisão qual, Reston passou a preparar o antídoto.

Fizemos com que Kaz bebesse o líquido e segundo Reston na manhã do próximo dia ele estaria bem.

Passamos então, a nos aprontar para a nossa última missão neste mundo. Compramos suprimentos e traçamos um plano junto com Reston e Casanate. Segundo Reston a ferramenta que tínhamos era apenas parte de uma ferramenta mais completa. O globo deveria estar apoiado em uma base com as direções entre os mundos. Além disso, Casanate disse que precisava de um mapa dos planos para conseguir nos guiar.

Aproveitamos nossa última noite em Cali na taverna. Como sempre regada a cerveja, Valna partilhava suas memórias do cárcere, com almofadas bordadas de OURO! Ao menos uma verdade! Finalmente algo para justificar seu dracônico apetite.

No outro dia Kaz estava como novo, quando acordamos ele já estava se alongando, disparando bolas para todos os lados. Despedimos de Jennyfer a taberneira, deixei uma boa gorjeta pois a mulher merecia depois do estado que Kaz deixou o quarto. Casagrande e Reston nos acompanhariam, o último inclusive trazia uma bela espada, aço marfim, mithril tratado pelos elfos. Nos reunimos na praça da cidade, despedimos de todos e Catarinna começou a ler o pergaminho.

Um vórtice se formou no céu, nuvens negras rodopiando, Catarinna flutuando entre nós sem as pupilas dos olhos, um tornado, um trovão e… Estávamos de frente ao portal que nos havia trazido para esse mundo.


Estávamos de volta no pútrido complexo de necromancia. Um lugar onde nem sequer a morte era respeitada e a agonia de perecer era apenas a introdução a um mundo de tortura. Por sorte dessa vez estávamos com o mapa do lugar.

A fim de encontrar o mapa fomos até a biblioteca em que o Mago nos entregou a ferramenta. Vasculhamos os livros procurando o mapa, ou a base ferramenta. Nesse instante Valna disse que sempre odiou livros, a elfa se despiu completamente de seu disfarce de sacerdotisa, por algum motivo não mais o considerava necessário. Enfim, não encontramos nada.

Fomos na outra sala, o laboratório de alquimia, mas, também, nossas buscas foram infrutíferas.

Resolvi então abrir a porta oposta a nossa entrada. Um brilho esverdeado vazava pelo batente da porta então tratei de abrí-la da maneira mais silenciosa possível.

A porta dava para um pátio interno gramado mas, o brilho vinha de uma fenda em seu centro. Uma iluminação verde espectral pulsava naquele pátio.

Pelo mapa que tínhamos em mãos, ao sul daquele pátio estaria o calabouço, a oeste uma igreja e ao norte a sala do tesouro mas, para alcançá-la, deveríamos ter que passar pela caserna.

Rente a parede, o mais longe possível da luz espectral, caminhei até a caserna onde ouvi vozes do outro lado da porta. A oeste também um culto era realizado na capela.

Retornei, contei tudo aos demais. Valna então nos revelou que seu deus, seja ele qual for, havia lhe concedido o dom da profecia. Ela precisaria de alguns minutos para estar em comunhão com sua divindade e teria uma revelação.

Preparamos um altar e a elfa iniciou o ritual. Proferindo apenas uma pergunta: “Onde encontraremos o mapa e a ferramenta?” e obtendo apenas uma resposta: “Ao norte.”

Seria uma visão, ou o simples desejo por ouro da elfa que estava falando?

quinta-feira, 11 de março de 2021

Uma Nova Esperança


Vamos depressa para a última porta, e os sortilégios do covil de um mago...


O ELENCO

Leaf - Bardo - Elfo
Axios - Guerreiro - Minotauro
Kaz - Guardião - Orc
Catarinna - Feiticeira - Humana
Valna - Clériga - Elfa


O ENREDO


Avançamos para a última porta, do lado oposto ao que havíamos entrado. Antes de abrí-la verifiquei a fechadura e pude constatar alguns esporões de veneno. Tentei desarmar mas, falhei, Valna então se prontificou e a desarmou facilmente. As vezes penso que o propósito de vida da elfa seja zombar os demais elfos, pelo menos não sou o Reston! Por fim, destranquei a fechadura e Axios se posicionou para abrir a porta.


Do outro lado uma sala grande, ainda mais ampla que o corredor onde estávamos. Nela repousavam seis estátuas, e uma grande runa no chão à nossa frente. As estátuas se destacavam em meio ao ambiente empoeirado, resolvemos então tentar quebrá-las rapidamente, aventureiros tem manias rudes mas, antes de julgá-los, você já foi atacado por uma? No momento que Axios pisou sobre a runa ela começou faiscar, duas estátuas do fundo da sala viraram pó. As duas porém despertaram de seu sono perpétuo.

Já tendo pisado sobre a runa Axios sequer deteve o movimento, avançou brutalmente sobre uma das estátuas, e ainda que cada golpe do machado fosse acompanhado por dezenas de faíscas a pele rochosa do monstro resistia. Kaz foi o segundo a entrar, mas foi devorado por um buraco escondido no solo. Catarinna, Valna e eu mantivemos distância. Reston, sempre “motivado” por Valna se revelou um mago até poderoso, mais importante que isso nos mostrou que as estátuas eram vulneráveis a magia.

Catarinna e eu então começamos a usar as artes arcanas para ferir as estátuas. A Axios restava apenas bater com mais força. Kaz saiu do buraco e começou a disparar suas bolas certeiras contra as estátuas.

Conseguimos! Talvez pela desconfiança inicial estávamos bem posicionados e não foi derramado sangue em vão nesse combate.

Partimos então para verificar as demais estátuas, enquanto Reston verificava a Runa. Na sala havia três portas, uma ao norte, outra ao sul e uma em continuidade ao corredor. Axios tentou arrastar uma delas mas, por mais que o titã empregasse toda sua força ela permanecia imóvel. Foi então que Kaz levantou a outra estátua com apenas um dos braços. Axios ficou furioso e passou a usar ainda mais força contra seu algoz de pedra. Foi então que Kaz viu uma runa no solo subiu sobre ela. Nesse instante o Axios passou a mover a estátua. E revelou uma passagem secreta. Na sala oculta um grande tesouro.

Fui até lá ajudar a juntar as peças de ouro, e na verdade fui surpreendido quando cheguei com Valna já enchendo sua mochila, eu tinha certeza que ela havia ficado para trás com Reston, ela deve ter algum imã para ouro …

Enfim entramos na sala sul, como sempre verifiquei a porta, nenhuma armadilha, abrimos e vimos uma biblioteca. Meu modo incauto se apossou de mim novamente, avancei rapidamente sobre a estante, esperando livros raros, poderosos, com a história daquele lugar, sortilégios mas, obtive sangue!

Mais exatamente meu sangue! Os livros criaram vida! E suas páginas afiadas dilaceram minha pele. Recuei rapidamente, Axios sempre de prontidão tomou a vanguarda em conjunto com Kaz.

Mais uma vez o combate se irrompeu e mais uma vez vencemos. Axios terminou o embate resoluto de como cultura e livros são perigosos. Meu poderoso amigo realmente não tem entre seus maiores músculos o cérebro.

Terminado o combate vasculhamos a sala e obtivemos tesouros importantes! Entre eles um pergaminho de teleporte, o qual Reston apontou que poderíamos usar para retornar ao nosso cativeiro original desta terra e sabendo operar o portal poderíamos voltar para casa.

Entramos no quarto do meio, e para nossa surpresa era um quarto de mulher! Com roupas finas, perfume e até mesmo uma gargantilha. Uma bela cama de casal e um grande espelho. Quando olhamos para o espelho conseguimos ver do outro lado uma criatura decrépita, esquelética nos fitando com suas orbes vazias. Catarinna então tentou se disfarçar da proprietária do quarto para ver se a criatura falaria algo. Nada adiantou, a figura apenas fitava a feiticeira que perdeu a paciência da brincadeira e nos adiantou para a última porta.

Abri a fechadura e enquanto Axios se preparava para abrir a porta notei a falta de Valna e Reston. Perguntei a Kaz que apontou a porta do quarto fechada. Bom … Espero que consigam resolver toda a tensão de sua relação.

Entramos em uma sala, diferente das demais estava limpa com nichos de luz. A direita um altar com um cálice de prata sobre ele. A esquerda uma pentagrama de prata fundido ao solo. Antes que Axios avançasse, Catarina o deteve com um gesto - É uma sala de invocar demônios, cuidado - disse ela. Resolvemos então que o melhor era apenas Catarinna e eu vasculhar a sala. Entenda se o assunto é quebrar ossos Axios e Kaz são de longe os eleitos mas, não queríamos nenhum toque em lugar errado, então é melhor manter o touro, não conte a Axios, fora da loja de cristais.

Vasculhamos da melhor maneira sem encontrar nada. Resolvi trancar novamente a porta, algumas coisas devem ser cerradas para nunca mais serem usadas.





Aguardamos até que Valna e Reston saíssem do quarto. Reston trazia um sorriso no rosto, Valna… nem tanto assim. Bom, todas as noites são iguais, os meninos estão satisfeitos e as meninas querem mais.

Com o pergaminho de teleporte em mãos havíamos atingido nosso objetivo era hora de voltar para a cidade.

Ao sairmos do covil, Valna avistou ao longe o dragão de vapor. O dragão atacava um barco voador. Nesse momento nosso sempre tardio Reston lembrou-se que existem naus capazes de navegar entre planos e dimensões. Quando perguntado porquê só agora havia dito isso, respondeu que essas naus são tão raras que ele achou que não valia a pena. Raro… Sério, talvez tão raro quanto um minotauro centurião de um grande reinado junto com um orc rebatedor que comanda insetos? Enfim, agora que ele havia feito as pazes com Valna não seria eu a caçoar o elfo.

A batalha terminou com a destruição da nau. Fomos então em busca de sobreviventes. Chegamos aos destroços, encontramos quatro corpos. Foi então que Kaz avistou, e eu juro que essa parte é verdade, um Hipopótamo, não o animal bípede com vestes de capitão, e ainda falava.



Ele era um almirante, comandante daquela nave, mais exatamente Almirante Porter Casanate. Um comerciante entre mundos. Ele já havia passado pelo Forte da Vela em Faerun, visto as muralhas de Tapista, o reino de Axios. Finalmente alguém que poderia compreender o minotauro.

Voltamos para cidade. Com o pergaminho poderíamos voltar para o local onde estávamos encarcerados. Ainda tínhamos a chave para operar a máquina cuja Reston disse ser capaz de operar. Faltavam um mapa e alguém que conhecesse os caminhos entre planos.

Porter era um grande conhecedor de viagens interplanares, quanto ao mapa vamos apostar que onde existe uma máquina de planos também exista um mapa de planos.

Terá a aposta sido muito alta? Porquê Reston deseja se arriscar por nós? Paixão? Seriam os afagos de Valna assim tão poderosos? Essa é uma história para outra noite.


quarta-feira, 3 de março de 2021

A escuridão de oito olhos

Bom agora irei lhe contar do dia em que a morte me fitou com seus olhos, oito olhos mais exatamente.


O ELENCO
Leaf - Bardo - Elfo
Axios - Guerreiro - Minotauro
Kaz - Guardião - Orc
Catarinna - Feiticeira - Humana
Valna - Clériga - Elfa

O ENREDO


Paramos defronte a esquálida caveira de pedra, sem expressão fria como rocha nos convidava para a morte certa. Descemos o vale até a encosta do outro lado onde o covil do mago repousava em seu sono ancestral.

As portas estavam abertas, não havia motivo para trancá-las, quem seria tolo de se aproximar daquele local? Entramos e nos vimos em um tabuleiro de xadrez. Placas no chão cada uma com uma letra, grandes o suficiente para que ficássemos de pé em cima delas.

Pisei na primeira placa, um “N”, firme nada me aconteceu. Pisei então na placa do lado um “O” e fui surpreendido por uma explosão de fogo nos meus pés. Pronto já sabíamos que jogo estávamos jogando. Com ajuda de Axios e meio que servindo de “boi de piranha” avançamos algumas casas, às vezes o terreno era sólido, outras vezes era atingido por algum sortilégio: fogo, gelo ou veneno.

Poucas casas depois Kaz solta um: “Ahhh” - O orc havia compreendido a lógica daquele tabuleiro infernal. “São as escolas de magia vejam” - Disse ele enquanto rapidamente corria por sobre as casas que formavam a palavra “Transmutation”. Sinceramente não sabia sequer que o orc era capaz de ler, quanto mais saber quais são as escolas de magia mas, de um homem que conversa com insetos pode-se esperar de tudo.

O avanço de Kaz foi interrompido por algumas teias, ah sim! Não havia falado delas. Todo lugar estava coberto por teias, grossas e densas com certeza não eram teias normais. Bom Kaz fez seu taco pegar fogo e ateou fogo às teias que o enredaram.

Foi então que uma voz gutural produzida por uma traqueia não humana interrompeu o silêncio. “Minhas filhas! Como se atrevem" - A monstruosidade então se apresentou, uma aranha maior que um cavalo apareceu. Suas garras pingavam veneno que queimava até mesmo o chão onde caíam.

Nos aprontamos seguindo as orientações de onde pisar e onde não pisar de Kaz. Axios se apressou em ocupar a vanguarda mantendo o monstro distante de nós. Catarinna, Valna e Kaz despejaram todo tipo de ataque na criatura. Eu mantive o papel de distrair o monstro para que Axios não seja mais castigado que o necessário.

Depois de uma bola certeira entre os dois maiores olhos da aranha a mesma convulsionou, retesou as patas e logo depois caiu.

Seguimos para a porta ao norte. Trancada e com uma armadilha. Desarmei a armadilha enquanto Valna cuidava da fechadura. Entramos em um corredor, com duas escadas em cada um dos lados e uma porta do lado oposto ao nosso.

Logo depois que entramos notamos que estávamos sendo seguidos, nos voltamos para a retaguarda mas, era Reston, o sábio da vila. Aparentemente o elfo tinha interesse na Val… No covil do mago, de qualquer maneira seria mais uma mão para nos ajudar e não consegui perceber uma intenção de nos trair. Pelo menos, não a princípio. Enquanto Reston e Valna se entendiam, fomos surpreendidos pelo som de patas.

Centenas, milhares de patas. Um tamborear constante das garras de quitina no solo, a nossa frente o chão e as paredes se moviam em um surto psicótico embalado por dezenas de aranhas.


Axios e Kaz se apresentaram para o front de combate. Os demais tomaram posições na retaguarda a fim de punir os inimigos à distância.

Por um instante todo titubear das patas se silenciou, tudo se retesou aguardando o choque da onda de vermes nos colossos de carne. A luta se iniciou, feroz, brutal e extremamente tóxica. O primeiro a experimentar o poderoso veneno que as aranhas traziam em suas quelíceras. Forte o suficiente para retirar o brilho dos olhos do Orc mas, não a sua determinação.

Após o quebrar da primeira onde este elfo se tornou incauto, talvez tenha passado muito tempo ao lado de Axios e seus discursos sobre a força… Seja como for me juntei a vanguarda, em meu alaúde despejei uma poderosa canção conhecida como “Ace of Spades”. As cordas rugiram como um trovão atingindo as aranhas na minha frente, rachando seus exoesqueletos. Meu momento de glória que logo se tornou terror.

Confiante demais, levado pela música baixei a guarda. Presas certeiras se fincaram em minhas costelas. O poço nego dos oito olhos me fitando e o veneno queimando em meu corpo. Já conseguia sentir o toque acalentador da Feywild… Então um som metálico me tirou do transe. Axios se enfurecera, uma machadada certeira havia partido minha atacante em duas. Depois de olhar por um instante para verificar se estava tudo certo comigo um urro e uma investida certeira em outra aranha que explodiu na parede.

Valna conjurava uma esfera de chamas enquanto discutia com Reston para que esse fosse mais útil. Aproveitei o instante para recuar, recuperar o fôlego, e me posicionar mais distante da frente de combate.

Aos poucos ao som de machadadas, tacos, flechas e chamas o enxame foi tombando. Não sem nos causar vários ferimentos.

Estávamos exaustos após o combate. Resolvemos descansar um pouco. Toquei uma música suave para encobrir a discussão constante entre Reston e Valna, śerio qual o problema desses dois?

Depois de nos recuperarmos, resolvemos averiguar os quatro quartos ao lado do corredor.


No primeiro, um calabouço. Um corpo já esquelético se agarrava a um machado. Chamei Axios que fez as honras ao guerreiro caído e tomou o machado. Reston, “incentivado” por Valna, se apresentou então para identificar o item.

Na segunda uma estátua. Na verdade, apenas a cabeça de uma imensa estátua. Muitas teias mas, o que chamava a atenção era um de seus olhos brilhantes. Muito suspeito, resolvemos verificar os outros quartos antes de pegarmos a joia.

O terceiro era outro calabouço. Seja lá o que jazia por ali já havia virado pó. Porém uma capa estava presa em várias teias no local. Pegamos a capa, lembrei da pérola que havíamos coletado logo chegar na ilha e resolvi identificá-la.

Por fim, no quarto uma mão gigantesca saindo do solo segurando um bastão. Kaz o pegou e trouxe até mim para que eu dissesse do que se tratava.

Enquanto eu e Reston realizamos os rituais para identificar o item, Valna resolveu retornar ao segundo quarto.

De maneira imprudente subiu na estátua e utilizando uma adaga removeu a jóia. Por sorte, nada aconteceu. Tivemos sorte, todos eram itens mágicos, a jóia em especial uma pedra de Ioun que lancei sobre os cifres de Axios.

Sim, se você me acompanhou aventureiro ainda falta uma porta mas, essa é uma história para outro momento.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Um Mundo de Vapor

Bom onde eu estava mesmo… Ah sim!


O ELENCO

Leaf - Bardo - Elfo
Axios - Guerreiro - Minotauro
Kaz - Guardião - Orc
Catarinna - Feiticeira - Humana
Valna - Clériga - Elfa


O ENREDO

Axios atraiu as criaturas de metal para fora. Elas tilintavam um som funesto o tic-tac das nossas vidas se esvaindo. Elas atacaram primeiro. Focaram no Kaz provavelmente atraídas por seu gigantesco porrete. Duas lanças, as duas acertam… Kaz se enfurece tudo nele pulsa, duas bolas são rebatidas com violência… Explodem e colocam fim em três dos cinco que nos atacavam.

Catarinna se anima ao ver o feroz ataque do Orc, lança uma onda de choque, um trovão que joga mais um dos nossos atacantes para o precipício. O último fica por conta de Axios que o destrói com seu machado.

Entramos no coração do monstro. Vapor e enxofre, um calor sufocante. Tudo cor de bronze deixando nossos olhos mareados. Canos por todos os lados como se fossem vasos e veias de uma criatura monstruosa que havíamos entrado. A nossa frente uma plataforma com uma alavanca. Mexemos na alavanca e um incrível arranjo de correntes, polias e rodas engrenadas fez a plataforma deslizar vagarosamente para baixo.

O poço parecia não ter fim, minutos, horas não sei quanto tempo se passou. O templo ampliado pelo murmúrio baixo do Minotauro lutando contra o desconforto do chão abaixo dos seus pés não ser firme o suficiente.

Finalmente a máquina parou. Estávamos novamente no mundo de bronze e enxofre. A nossa frente de novo os monstros de metal com seu tilintar. Porém dessa vez havia algo diferente. Um homem completamente azul, tentamos conversar com ele, explicar que não queríamos fazer qualquer mal às criaturas daquele lugar, precisávamos apenas confirmar que se tratava de um covil de dragão e poderíamos ir embora.

Fomos respondidos da pior maneira possível. Os olhos de nosso gladiator se turvaram, a fera presa por fortes amarras de honra, fé em Tauron e trato social do minotauro haviam sido retiradas, nosso companheiro retornava a sua forma bestial.

Não tínhamos tempo a perder, um ataque de Axios seria devastador, eu sabia disso melhor que todos pois conhecia bem seus “tapinhas” de comemoração.

Kaz se moveu como o vento, descendo seu porrete em todos os inimigos no caminho, em um piscar de olhos estava do outro lado da sala, segundo o mesmo percorrendo as três bases. Eu tentei selar novamente a besta de nosso, completamente em vão, deveria saber que seu monstro interior estava sedento por sangue.

O ser azul voltou-se para Kaz, um novo encanto mas, não dessa vez, nós bardos somos tão bons em entreter lordes e concubinas quanto somos em interromper encantamentos. Dei um grito, estridente, que retirou parte da força da magia, Então ele voltou-se para um painel que estava em suas costas apertou alguns botões, mexeu em umas alavancas, e os canos de bronze pulsando como artérias passaram a soltar cada vez mais calor e vapor.

Após hesitar por alguns instantes, Valna puxou seu arco e acertou uma flecha entre os olhos da criatura azul. Que torceu de costas e se desfez em frente aos nossos olhos. Axios se libertou do encanto e junto com Catarinna deu fim nos outros mecânicos que nos atormentavam.

Ao fim da batalha Kaz verificou o painel e encontrou apenas uma escrição estranha: BZM4K-003F

Bom tínhamos três opções, dois quartos e uma escada que dava na mesma direção dos canos. Entramos nos quartos primeiro. No da esquerda alguns daqueles pequenos autômatos, resolvemos destruí-los pois, eles poderiam despertar a qualquer momento. Na direita outro um tanto mais interessante, havia uma quantidade em ouro mas, o que chamava atenção era um ovo de metal do tamanho de um ser humano.

Eu e Valna resolvemos inspecionar o objeto e encontramos uma fechadura. Com alguma dificuldade abri, e nos deparamos apenas um com um interior acolchoado mas, vazio, deveria ser uma urna vazia no momento.

Enquanto eu e Valna inspecionamos o objeto Kaz nos chamou para verificarmos novamente o painel, a escrição havia mudado: BZM4K-002F. Olha… não gosto de contadores decrescendo, resolvemos nos apressar. Subimos a escada e nos deparamos com o ninho de um dragão!

O dragão parecia estar dormindo, todos os tubos do covil pareciam convergir para aquele lugar. Axios se apressou parecia estar fascinado por encontrar um dragão metálico.

Eu, no entanto, detive o guerreiro, o monstro que se apresentava naquele lugar não era um dragão metálico. Era um rascunho mal feito e descabido, jamais seria uma cria de Bahamut.

Então, temos que destruir essa cria de Kalllyadra… (no o que?) - Disse o minotauro. Veja, estou em uma terra que não é a minha, não fui contratado para matar um dragão, ou o que quer que essa criatura seja e tenho bastante apreço na minha vida. Respondi que devíamos ir embora, afinal já tínhamos confirmado que se trata de um covil de um dragão, ou algo parecido. “Tauron, não permite que eu dê as costas a um inimigo Leaf” - Respondeu Axios. Sabendo que só uma coisa supera a teimosia de meu companheiro de viagem disse. Pois então vire-se para ele e caminhe na minha direção. E… surpreendentemente me deparei com o minotauro andando de costas acompanhando o resto do grupo para fora daquele lugar.

Na costa um dos mercadores nos esperava, confirmamos a ele que era o covil de uma criatura parecida com um dragão mas, não exatamente um dragão metálico. A resposta foi boa o suficiente para que ele honrasse sua promessa de nos transportar para o continente.

Partimos da ilha, não sem antes ver nosso algoz ganhando os céus. Aquele esboço de dragão rumava fortuitamente para longe de nós.

Ganhamos o mar ansiosos por um retorno tranquilo a cidade mas, nem sempre os deuses tem os mesmos planos dos mortais. Uma calmaria nos deixou a deriva. Catarinna então resolveu impulsionar nossa nave usando a sua magia. A calmaria se transformou então em uma rajada na direção oposta à que Catarinna nos guiava. Havia magia no ar, eu sentia, mas, a feiticeira senhora dos trovões conseguia ouvir os encantamentos. Seus olhos então faiscaram e a constante brisa que impulsionava nosso barco se tornou uma forte rajada, a vela se encheu e em pouco tempo estávamos fora da tempestade.

Ainda assim não havíamos chegado e o mar ainda tinha sortilégios, uma densa névoa engolfou nosso barco. Catarinna sentia a magia no ar. Tenho pena de quem tentou testar forças com nossa feiticeira. A bruxa resolveu deixar claro quem era a senhora do vento e do trovão. Veias pulsaram, os olhos completamente sem pupilas, novamente Catarrina pairava acima do solo envolta em um casulo de raios. Uma forte rajada de vento encheu nossa vela e a embarcação finalmente se deslocou para a cidade.

Voltamos para Cali, após confirmarmos tudo com nossos empregadores, que deixaram claro que partiriam em uma semana.

Bom, eu tinha ouro bruto e queria transformá-lo em algumas peças de ouro. Nos informaram que o sábio estava de volta e tinha interesse em ouro.

Fomos até a casa do sábio para a nossa surpresa um elfo, jovem, embora isso possa significar algumas centenas de anos. Os olhos de Valna faiscaram a sacerdotisa parecia se interessar bastante por elfos jovens capazes de comprar grandes quantidades de ouro bruto.

Axios se adiantou a nós e despejou todos os seus devaneios sobre Arton, Tauron, Tapista e outras palavras que apenas fazem sentido para ele. Aguardamos…. AGUARDAMOS. Para então sermos surpreendidos por Kaz demonstrando todas as suas habilidades atléticas. Esse foi o instante em que o brilho dos olhos de Valna desapareceu, ao perceber o interesse do elfo pelo vigoroso taco do orc.

Resolvi dar fim à demência que se alastrava no grupo, me apresentei apropriadamente e perguntei o nome do Sábio. Ele atendia pelo nome de Reston e acabara de retornar de uma incursão ao forte do mago que havia fundado a cidade. Expliquei a ele que somos viajantes de mundos distantes, coletados para uma experiência de necromancia, velejadores de uma tartaruga gigante e fugitivos de um culto louco ao lado da cidade.

Nesse instante Axios me interrompeu e disse - Sabe Leaf, falando assim em voz alta, até parece loucura, não? - Fui obrigado a concordar. Perguntei então se ele sabia alguma maneira de retornarmos para casa.

A primeira opção foi retornar pelo portal do laboratório de necromancia. Algo completamente fora de nosso alcance, exceto pela referência do gigantesco redemoinho não tínhamos ideia de onde era o laboratório.

A outra opção é que o antigo abrigo do mago tinha alguns itens, e talvez um portal que pudéssemos utilizar para voltar para casa. Reston nos deu a direções, partiríamos no outro dia. Eu convidei ele para se juntar a nós na taverna a noite, quem sabe Valna não desse sorte… ou quem sabe... Kaz! Infelizmente o elfo não apareceu.

Nos equipamos e partimos da cidade, rapidamente ao chegar a localização indicada por Reston demos conta que o elfo foi bastante sucinto nos detalhes do covil do mago. Porque covil? O forte na verdade era uma caveira escavada na escarpa de um vale tal era a sua expressão que parecia nos vigiar ao longe. Toda a terra era cinza e a desolação invadia não só a paisagem mas, também nossos corações.

Fortuna ou revés? O que nos aguarda naquele lugar? Por agora esse elfo tem que ir embora, quem sabe da próxima vez que nos encontrarmos.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

A Sombra da Besta

Ah... Civilização, como é bom ter uma lareira, um banco confortável para se sentar e um bom vinho élfico para molhar a garganta. Se aconchegue aventureiro assim como quando cheguei em Cali.

O ELENCO

Leaf - Bardo - Elfo
Axios - Guerreiro - Minotauro
Kaz - Guardião - Orc
Catarinna - Feiticeira - Humana
Valna - Clériga - Elfa

O ENREDO

Meus companheiros de viagem tinham pressa, esse elfo... Não. Ora se estamos em um mundo perdido nada como saber que leis regem esse mundo. Fui, portanto, no mais importante prédio da cidade. Um forte? Castelo... Não homem, preciso de verdades incômodas e não sutileza, fui à taverna.

A taverna estava deserta, fui atendido pela taberneira Jenifer. Achei que era um dia ruim mas, ela me disse que aquele era o movimento comum naquela pequena cidade. Se entendi bem, a cidade é praticamente um entreposto entre o continente e aquela pequena ilha, sobrevivendo desse comércio incipiente. Apareceram alguns clientes para o almoço e poucas cabeças após o trabalho, infelizmente um número muito menor do que o necessário para histórias interessantes.

Bom, minha cicerone continuou a me contar como era a cidade. Havia sido fundada nos arredores do forte de um mago. Hoje um elfo sábio herdara a posição de lorde na cidade. Era também a única cidade da ilha. Perguntei sobre outros viajantes perdidos sem entender muito onde estavam, ou que possuíam características peculiares como meu nobre companheiro Axios. Ela respondeu de maneira negativa, disse que poderia encontrar algo do tipo em Megalus, uma cidade no continente que ela me apontou no mapa.

Visto que nosso objetivo agora estava no continente, perguntei se havia algum transporte regular para fora da ilha. Outra negativa, segundo Jenifer as únicas embarcações que aportam e zarpam da cidade são de comerciantes.

Nesse momento entrou na taverna Axios, se o minotauro é dificil de não ser notado agora então era impossível de ignorá-lo. Ele estava radiante, sua força havia sobrepujado um bando de mortos-vivos, segundo ele apenas um degrau para ficar a postos de enfrentar a Tormenta... Um dia descobrirei que tormenta é essa que ele tanto fala.

O mais impressionante é que o provinciano guerreiro finalmente chegara à conclusão que não estava em seu mundo. Portanto eu também estaria longe de Glórien mas, para me alegrar ele havia encontrado um belo alaúde.

Bom... Não sei quem é Glorien mas, já deixei de tentar entender Axios palavra por palavra, confio em seu nobre coração e aprendi a entendê-lo. O alaúde era realmente incrível, toquei uma balada sobre os Aventureiros do Infortúnio, ou seja, nós.

Catarinna, Kaz e Valna também me trouxeram boas novas das criptas que haviam silenciado enquanto eu bebia na taverna. Atento às suas palavras ouvi quando citaram um anão comerciante que estava na cidade. Resolvi então que conversaria com ele sobre uma passagem para o continente. Kaz também tinha negócios no centro da cidade e pediu que eu o esperasse para tratar com anão.

Enquanto aguardava Kaz na porta da taverna ví o mesmo emitir um brado aterrorizante enquanto olhava para o céu:

!!!DRRRAAAAAAGGGGÃÃÃÃÃÃOOO!!!

Joguei-me imediatamente taverna adentro, veja homem coragem se torna tolice quando a outra parte envolvida é um dragão.

Aguardamos alguns minutos. Inicialmente não disse a Axios do que se tratava pois, estava certo que o ousado guerreiro tomaria frente em relação a besta. Kaz veio correndo, ainda atônito pela passagem do monstro. Segundo ele os dragões estavam extintos, sim extintos, aparentemente a loucura de Axios se alastrava. Seja como for, Kaz o descreveu para nós, segundo ele um dragão cuja luz do dia refletia em sua pele. Rapidamente entendi que se tratava de um dragão metálico, bom dos males o menor, dragões cromáticos costumam ser muito mais impiedosos que os metálicos.

Voltamos ao nosso objetivo inicial, fui conversar com o mercador anão, tentei oferecer nosso serviços como seguranças mas, o anão parecia satisfeito com os seus. Não parecia ter muito interesse em nosso ouro também mas, se demonstrou bastante interessado em enviar uma comitiva, que não o incluísse, para a ilha no meio do anel das ilhas. Segundo ele queria comercializar com o dragão.

Olha… Não tenho obrigações com essa terra, mas dragões metálicos são uma verdadeira dádiva, e são raros. E posso jurar que vi o anão hesitar ao dizer a palavra comercializar. Se esse anão deseja fazer algo com esse dragão antes nós ficarmos sabendo para tentar impedir, que deixar que ele contrate mercenários impiedosos. Missão definida e preço definido também. Pela localização do covil o anão nos levaria ao continente principal.

Voltamos à taverna para podermos passar a noite. Catarinna, Kaz e Axios ocuparam os três quartos disponíveis. Eu e Valna passamos a noite no bar. Me comprometi a obter o máximo de informações possíveis da sacerdotisa que abre cofres. E depois de uma noite inteira regada a muita cerveja descobri que Valna deve ter o fígado de um anão.

Raiou o dia e preciso dizer que meus companheiros não deixam de me surpreender Kaz acordou coberto de insetos, disse que havia sonhado e que agora era uno com o grande inseto. Lembro de conferir o fundo de nossas canecas procurando o que raios estavam servindo nessa taverna.

Partimos para a rochosa ilha central. Ao longe já conseguimos ver seus picos enevoados. Ao longe já conseguimos discernir que não se tratava de névoa mas, sim de fumaça tal traço não passaria despercebido de qualquer forma pois, ao aportamos o pungente cheiro de enxofre inundou nossos pulmões.

Iniciamos a subida dos picos, e aqui preciso falar um pouco de Axios. Nosso inconsequente guerreiro investiria contra um demônio, ou, para ficar em suas divagações, um demônio da Tormenta sem pensar duas vezes. Tamanha ousadia porém não pode ser vista a ele subir qualquer coisa maior que um cavalo. O gigante se arrastava, curvo, murmurando e hesitante. Podia se ver um certo terror em seus olhos, sobrepujado apenas por sua força de vontade e coragem. Coragem? Sim coragem meu incauto, aquele que teme e persiste é corajoso, aquele que nada teme é tolo.

Alcançamos o topo de um dos picos. Na verdade chegamos ao topo de três picos, unidos por pontes pendentes. Em um deles uma enorme estátua de dragão de bronze. Abaixo da estátua uma entrada para dentro da rocha. De frente para nós, no entanto, marionetes metálicas. Pequenos dragões com um tilintar de engrenagens, todos de bronze, voando e protegendo os pés da estátua.

Nos atacaram, vomitando fogo, um calor capaz de invocar um lorde do inferno. Este elfo que vos fala chegou a vacilar encerrado, retornado ao pó pelo fogo.

Nós reorganizamos, revertemos o ataque. Catarinna absorveu o fogo das criaturas e o retornou para elas. Axios e Kaz avançaram protegendo os flancos, eu e Valna tratamos de fechar as feridas que eram possíveis.

Machados, tacos e bolas todos soaram no bronze das criaturas. Sua engrenagens foram retorcidas, rodas dentadas empenadas e eles não conseguiram mais se manter. Pouco a pouco todos foram destruídos mas, não sem custo. A ira dos monstros nos custou parte de nosso vigor. Resolvemos nos reagrupar no sopé da montanha descansar e depois avançar novamente.

Ao retornar pedi que esperassem um pouco enquanto eu vasculhava a entrada abaixo do dragão. Qual não foi a minha surpresa quando Valna se voluntariou para me acompanhar.

Entramos no que parecia ser as entranhas de um monstro de metal. Uma criação que deixaria até mesmo o maior gnomo artífice de Lantan sem palavras. Dentro cinco criaturas, autômatos de bronze guardavam a entrada.

Valna e eu retornamos, não teríamos chance entrando naquele átrio de metal e engrenagens. Resolvemos atraí-los para fora. Para isso Axios usou toda a percussão de seu escudo e os atraiu para fora.

Afinal, que criaturas são essas? Quem está produzindo esses monstros de bronze? E para que serve uma estátua em uma ilha deserta?

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

O Relato de Axios

Sob a luz mortiça de velas em uma terra desconhecida, eu, Axios Augustus Honoris, relato a seguir os eventos deste dia. 

Careço da métrica e da prosa de Leaf, meu novo amigo bardo, mas preciso registrar os ocorridos de hoje. Escrevo, pois, um relatório acerca desta etapa de minha viagem a uma terra terrivelmente confusa e, como vim a descobrir, tão alheia às pradarias do glorioso Império de Tauron que me são tão familiares. 

No despertar de Azgher — ou seja lá qual o nome pagão que dão nestas terras ao deus Sol —, alcançamos a vila de Cáli. Na entrada, encontrei um mestre anão bastante solícito. Era um mercador, acompanhado por dois guarda-costas: um humano e uma elfa, filha de Glór... Não, não filha de Glórien. Não nestas terras perdidas para os olhos dos deuses! 

O mestre anão impressionou-me com sua força e simpatia, logo nos indicando para o local que motivava nossa pressa. Explicamos-lhe que havíamos alcançado a cidade com celeridade para alertar o sacerdote de um dos deuses desta terra, e assim fomos direcionados a um templo. Lá chegando, encontramos o homem que pareceu confuso e assustado com minha aproximação. Quis tranquilizá-lo, assumindo a pose respeitosa que um legionário deve ter para com entes do clero, mas eis que o incauto civil perguntou se, ao se dirigir a mim, deveria chamar-me de homem. Achei-o deveras ousado em sua afronta e indaguei-lhe com que poder desafiava minha hombridade. Mal sabia eu que o motivo era mais sombrio... A verdade é que, para aquele homem, eu era uma criatura desconhecida e impressionante, inexistente naquelas terras. A seus olhos e de tantos outros, eu carregava o semblante ameaçador de uma besta ignorante, um ser de força e carente da lógica destilada por anos de estudo. Eu, membro de uma legião, um corpo único composto por inumeráveis espíritos vivazes e obedientes, era um soldado isolado, abandonado à solidão, confundido por muitos com um ruminante humanoide agressivo, um monstro, pois, como vim a saber logo em seguida, eu estava longe de minha casa. 

Sem me abalar com o desentendimento, ingressei em diálogo com o sacerdote, no que me seguiram meus companheiros, com a exceção de Leaf, que se dirigira a uma taverna no intento de declamar seus escritos e derramar seus vinhos goela abaixo certamente. Leaf é um bom homem, um elfo bastante confiante, mas sempre dotado de um olhar confuso quando com ele converso, além de possuir o estranho hábito de ferir com palavras os nossos inimigos. Parece-me desonroso não recorrer à força bruta como me foi ensinado, mas talvez essa seja só uma outra qualidade de vigor, afetando os inimigos em seu espírito e em sua sanidade mental. Espero apenas que não enfrentemos estoicos, aptos a absorverem os maiores vitupérios sem titubear. Mas estou divagando. 

Em nossa conversa com o sacerdote, soube, enfim, o motivo dos olhares confusos de meu amigo bardo e das constantes repreensões que recebia daqueles com quem interagíamos quando eu mencionava parcelas do meu conhecimento sobre geografia, história e religião: não estou em Arton. Malditos sejam Nimb e seus dados descoordenados, e ainda mais malditos sejam Aharadak e tudo o que é lefeu! Em uma jogada desenhada pelo Caos em conluio, certamente, com as tempestades rubras da Tormenta, fui enviado a outro mundo, afastado de meus deveres, de meu povo, de Tapista, meu reino, meu amado reino... Como quis chorar ao saber de tamanha desventura que me sufocava! Mas contive a força de minha saudade com o vigor de meu orgulho e decidi-me, por fim, que é meu dever manter-me firme no propósito de voltar à minha terra e reassumir a minha missão, seja ela qual for — as sombras turvas do esquecimento ainda obnubilam minha memória desde que surgi neste mundo desconhecido. Talvez seja fruto, inclusive, da natureza deste lugar afastado dos verdadeiros deuses onde me encontro: consoante afirmado pelo sacerdote, este é um Entremundos, um local de encruzilhada entre vários mundos. Assim, se Arton toca este lugar, é porque para lá posso retornar! Mas o como ainda me é tão incerto... 

Seja como for, meus deveres de justiça, minha homenagem distante a Khalmyr, precisam ser observados também à distância. Sei que o líder do Panteão de Arton me observa, mesmo à distância, mesmo nestas terras veladas aos olhos dos verdadeiros deuses, porque é justo que ele saiba que não vacilei no cumprimento de meu dever, mas, pelo contrário, fui involuntariamente jogado ao caos do desconhecido. Seja como for, por razão de justiça e em busca de restaurar a ordem, devo impô-la, seja onde for, assim como é devido. Foi desse modo que meu grupo e eu decidimos aceitar o pedido do sacerdote para que fôssemos ao cemitério do vilarejo, onde mortos-vivos assolavam a paz dos vivos e dos mortos. De início, não quis aceitar paga pelo serviço, afinal a distribuição da justiça já é o quinhão devido àquele que é justo. Mas Kaz, meu inusitado amigo orc, fissurado em agarrar-se a um taco que ele insiste em fazer crescer sempre que encontramos inimigos, lembrou-me de que o dinheiro desta terra pode ser um meio de adquirirmos nossa passagem de retorno a nossas vidas e, principalmente, aos nossos deveres. Aceitamos, portanto, ser pagos pelo feito. 

Na saída da cidade, com destino ao cemitério, conhecemos o ferreiro local. Bastante esmerado é o seu trabalho, e a sinfonia de suas marteladas lembrou-me as forjas ordenadas que temos no Império. Ó Tapista... Por que estamos tão distantes? Infelizmente, somente a nostalgia foi o que me restou recolher na sua oficina: com os poucos Tibares... corrijo-me: com o pouco dinheiro desta terra que temos, sequer poderíamos melhorar nossos equipamentos. Assim, seguimos como estávamos para a batalha, preparados apenas com o coração firme e com a robustez concreta de termos uma missão a ser cumprida. Leaf, porém, parecia avoado. Quedava-se ainda em declamações entremeadas por soluços de vinho na taverna. Ri um pouco de sua situação cômica de boêmio dedicado, o que aliviou o peso que senti diante dos novos conhecimentos, de minha desventura geográfica atual. Ele é um bom companheiro, assim como o são Kaz, Valna e Catarina. Talvez não seja de todo ruim o resultado dos dados de Nimb... 

Chegamos, enfim, ao cemitério e planejamos cuidadosamente nosso ataque. Que desventura ver que minha mente, perturbada nestas plagas desconhecidas, abraça a ignorância da parca estratégia. Tão cuidadosamente pensei em planejar algo que me demorei em demasia e executamos apenas o rascunho de um plano de batalha. Vergonha para as legiões teria sido a minha derrota, mas felizmente a força — sempre a força! — minha e de meus companheiros foi bastante para atingirmos nosso propósito. Mas isso não se deu sem o risco de sacrifícios! Não havíamos nem mesmo ingressado em combate, Catarina já corria risco de morte diante de um zumbi fétido que a atacava, muito longe de onde estávamos Valna e eu, deixando a responsabilidade de proteger nossa arcanista nas mãos, no taco e nas bolas de nosso amigo orc. Felizmente, apesar dos ataques sofridos, Catarina é uma feiticeira chocante — peço desculpas pelo trocadilho no relato, mas tenho passado muito tempo com Leaf, então certo desvio da sobriedade usual de meus relatórios era esperado — e o taco enrijecido e aumentado de Kaz, bem como suas bolas mágicas, provou-se uma arma volumosa contra os adversários. Ao mesmo tempo, a pontaria certeira de Valna e seus milagres de impacto e fogo foram peças vitais em nossa vitória. Unidos, conquistamos o desafio. Ou ao menos o que havíamos visto dele até o momento. 

Com os inimigos mortos (de novo), passamos ao escrutínio dos mausoléus e tumbas. Encontramos alguns bens que, não obstante eu acreditasse de início que deveriam ser deixados como lembranças e espólios dos mortos, seriam mais úteis conosco, um grupo de aventureiros em busca do caminho de casa. Ademais, que mal deve haver em ofender deuses que sequer sabem de nossa existência, neste entremundos perdido? 

Adentrávamos cada um dos cômodos de descanso eterno profanados pela necromancia que ressuscitara nossos adversários até que, ao final, encontramos uma criatura até então desconhecida para mim: era um espectro. A besta nebulosa parecia tocar um alaúde fantasmagórico quando a encontramos, mas logo mostrou toda a sua virulência ao nos atacar sem provocação. Por certo, meus companheiros estavam muito mais bem preparados para aquele embate do que eu. Valna proclamava seus milagres em ataques à criatura, Catarina enviava faixas luminosas com seus raios contra a imundície etérea, e Kaz, mais uma vez alisando magicamente seu taco para deixá-lo inchado e rijo, atingia a fera com pauladas impiedosas. O aço de meu machado, porém, apenas atravessava a criatura sem qualquer efeito... Nisso, Kaz teve uma ideia brilhante: estendendo na minha direção o saco com suas bolas mágicas, ao mesmo tempo que balançava ferozmente seu taco gigante contra o espectro, disse-me que segurasse uma de suas bolas e usasse-a para ferir nosso adversário — “Minhas bolas são mágicas! A criatura não suporta magia!”, ele disse. “Sim”, pensei comigo, “Definitivamente a criatura não será capaz de lidar com as bolas que vou esfregar em sua face plasmática!”; e foi o que fiz. 

Segurando com toda a minha força a bola mágica de Kaz, desferi golpes na face da criatura. O espectro, então, ora recebia o calor vigoroso das mãos quentes de Valna, ora sentia as fagulhas chocantes dos toques pungentes dos dedos de Catarina, ora tomava o impacto massivo do taco imenso de Kaz, ora engolia as bolas mágicas de Kaz que eu segurava e enfiava ectoplasma abaixo no inimigo. Podíamos ver a besta etérea se enfraquecendo à medida que a atacávamos e não foi surpresa para nenhum de nós que o taco mágico lustroso de Kaz tenha sido o último impacto sentido pela criatura antes de ela se desfazer em inexistência. Aquela, enfim, a vitória, nosso êxtase. 

Recolhemos os espólios do ataque e retornamos à cidade, onde o sacerdote nos agradeceu pelo feito e nos recompensou com uma pedra de poder. Talvez sejam como as bolas de Kaz. Catarina falou que ficaria com ela, mas pode ser que essa nova bola mágica, a bola do sacerdote, tenha mais uso nas mãos de Valna ou Leaf. Veremos.

Lá e de volta outra vez

Toda boa história, precisa de um final O ELENCO Leaf - Bardo - Elfo Axios - Guerreiro - Minotauro Kaz - Guardião - Orc Catarinna - Feiticeir...